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Alfa, Bravo, Charlie, atenção… Alfa, Bravo, Charlie! Você pode até não saber exatamente o que isso significa, mas certamente já se deparou com alguém pronunciando essas palavras em um filme ou seriado de guerra. É provável, inclusive, que quem tenha dito uma frase assim seja um piloto de avião ou de helicóptero. Esse tipo de comunicação nada mais é do que uma troca de mensagens por meio do alfabeto fonético internacional.
Prática muito comum na aviação civil e privada, bem como no meio militar. O intuito é simples: tornar a comunicação via rádio ou telefone, muitas vezes instável nesses meios, mais assertiva.
Basta pensar na proximidade de algumas letras como “p” e “b”, “n” e “m” ou “f” e “s” para imaginarmos a dificuldade da transmissão da mensagem em caso de interferência ou barulho excessivo. É o mesmo princípio de quando você, fazendo um cadastro por telefone, soletra ao atendente: “M de Maria, A de Amor, C de Casa, D de Dado…”.
Apesar de conhecido por alfabeto fonético, o sistema é, na verdade, um alfabeto de soletração. O nome oficial é International Radiotelephony Spelling Alphabet, mas também é conhecido globalmente por alfabeto fonético ou de soletração da Organização Internacional de Aviação Civil (Icao) ou da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). No Brasil, é chamado, ainda, por alfabeto “zulu” ou alfabeto aeronáutico.
O alfabeto fonético
Confira como é pronunciada cada uma das letras na utilização do alfabeto fonético na aviação:
Símbolo | Código | Código Morse | Phonic (pronunciation) |
---|---|---|---|
A | Alfa/Alpha | ● ▬ | AL FAH |
B | Bravo | ▬ ● ● ● | BRAH VOH |
C | Charlie | ▬ ● ▬ ● | CHAR LEE |
D | Delta | ▬ ● ● | DELL TAH |
E | Echo | .● | ECK OH |
F | Foxtrot | ● ● ▬ ● | FOKS TROT |
G | Golf | ▬ ▬ ● | GOLF |
H | Hotel | ● ● ● ● | HOH TELL |
I | India | ● ● | IN DEE AH |
J | Juliett | ● ▬ ▬ ▬ | JEW LEE ETT |
K | Kilo | ▬ ● ▬ | KEY LOH |
L | Lima | ● ▬ ● ● | LEE MAH |
M | Mike | ▬ ▬ | MIKE |
N | November | ▬ ● | NO VEMBER |
O | Oscar | ▬ ▬ ▬ | OSS CAH |
P | Papa | ● ▬ ▬ ● | PAH PAH |
Q | Quebec | ▬ ▬ ● ▬ | KEH BECK |
R | Romeo | ● ▬ ● | ROW ME OH |
S | Sierra | ● ● ● | SEE AIRRAH |
T | Tango | ▬ | TANG OH |
U | Uniform | ● ● ▬ | YOU NEE FORM |
V | Victor | ● ● ● ▬ | VIK TAH |
W | Whiskey | ● ▬ ▬ | WISS KEY |
X | X-ray | ▬ ● ● ▬ | ECKS RAY |
Y | Yankee | ▬ ▬ ● ● | YANG KEY |
Z | Zulu | ▬ ▬ ▬ ▬ ▬ | ZOO LOO |
Uso na aviação
O alfabeto fonético na aviação privada serve para auxiliar torres de voo, equipes de controle, pilotos de helicópteros e jatos a compartilharem informações de maneira ágil, concisa e correta.
Por exemplo, o piloto de um jato privado poderá informar ao operador de base fixa ou à administração do aeródromo, com antecedência, o momento aproximado de sua chegada, quanto tempo irá permanecer no local, quais são os serviços requeridos pelos passageiros ou pela tripulação, o número de cauda da aeronave etc.
Em caso de um aeroporto maior, o alfabeto será útil para receber as transmissões do Serviço Automático de Informação Terminal (ATIS), que atualiza continuamente dados essenciais, como rotas disponíveis, pistas livres e o clima.
Se o prefixo de seu avião fretado com a Flapper for, por exemplo, PR-XMA, o piloto informará aos interlocutores: Papa Romeo X-ray Mike Alfa. Isso eliminará a chance de que a outra pessoa entenda BR ou TR.
Já para a transmissão do squawk – código transponder para informar ao controle de tráfego a identificação da aeronave – são utilizadas combinações de quatro números e os algarismos também têm uma pronúncia especial. Segundo a Organização Internacional de Aviação Civil, os números devem ser pronunciados como:
Zero, Wun, Too, Tree, Fower, Fife, Six, Seven, Ait, Niner.
Histórico
Como mencionado, os alfabetos fonéticos são sistemas que representam a emissão sonora dos idiomas, de forma padrão, mais utilizado por pesquisadores da área da linguística. Já a história dos alfabetos de “soletração”, que convencionamos chamar como alfabeto fonético na aviação, remonta ao início do século XX.
As primeiras iniciativas optavam pelo uso do nome de cidades – houve quem definiu de Argentina a Zanzibar, como quem foi pelo caminho de Amsterdã a Zurique. Antes da 2ª Guerra Mundial, diferentes países e instituições foram utilizando as suas próprias versões.
Durante o conflito global, porém, começaram os primeiros movimentos de unificação. Àquela altura, os Estados Unidos utilizavam o alfabeto “Able Baker” (que tinha essas palavras nas duas primeiras letras). Deste sistema, restaram ainda hoje algumas palavras, como Charlie, Mike e Victor. Para diminuir a confusão na comunicação, os Aliados (Reino Unido, Austrália etc.) optaram por seguir esse mesmo modelo.
Depois da Guerra, o exército dos EUA solicitou ao Laboratório de Psicoacústica da Universidade de Harvard que fizesse uma pesquisa para encontrar as palavras mais adequadas para representar as diferentes letras, levando em consideração que elas seriam pronunciadas em aparelhos de rádio militares e em meio a intenso barulho.
Utilizando diversos alfabetos correntes, esse trabalho resultou na base do que hoje é considerado o alfabeto fonético internacional da aviação, conforme padronizado pela Otan. Antes da versão final, entretanto, ao longo das décadas de 1940 e 50, o alfabeto passou por várias alterações.
Primeiro, para ampliar a utilização para além das nações anglófonas, já que o “Able Baker” tinha palavras que ressoavam melhor em inglês. Então, revisões passaram a considerar como a pronúncia se daria também em francês, espanhol e português. A versão final, como conhecemos hoje, foi definida em 1956, com publicação da Icao e adoção da Otan.