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Presente em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, a FlightSafety tornou-se ao longo das últimas décadas uma referência em ensino, preparação e treinamento de tripulantes de aeronaves comerciais e executivas. Em suas sedes, nas paredes das salas de aula, uma célebre frase é estampada tal como um mantra: “the best safety device in a aircraft is a well-trained crew”. Em uma tradução literal para a língua portuguesa o significado não perde a importância. O melhor dispositivo de segurança de uma aeronave, apesar da tecnologia embarcada e de toda a redundância pensada para os seus diversos sistemas, sempre será uma tripulação preparada, capacitada e treinada seguindo os mais altos padrões de qualidade e, sobretudo, seriedade de ensino.
Nessa condição, além dos pilotos, temos também os importantíssimos comissários de voo. Estes tripulantes, vistos comumente na aviação de linha aérea, também podem ser encontrados na aviação executiva. As suas funções, embora sejam por vezes distintas em relação aos voos regulares, possuem como objetivo principal assegurar os procedimentos de segurança dos passageiros embarcados, trazendo como consequência mais conforto, bem-estar e comodidade.
Comissários de Voo: Como Surgiram?
A profissão de comissário de voo surgiu na década de 1930 oriunda de uma restrição absolutamente contestável. Quando a norte-americana Ellen Church, uma então jovem com menos de trinta anos de idade, obteve a sua licença para pilotar aviões, nenhuma companhia aérea aceitava mulheres pilotando as suas aeronaves. Diante das sucessivas recusas e com o ímpeto de voar sem aceitar as restrições e as negativas impostas, Church teve a oportunidade de sugerir a Steve Simpson, executivo da Boeing Air Transport, a contratação de enfermeiras como comissárias de voo. Na visão dela, a presença destas profissionais seria essencial para acalmar, atender e entreter os passageiros que possuíam medo de voar. Diante do contexto no qual a aviação estava inserida na época, ainda traumatizada e vista com ressalvas por conta do pós I Guerra Mundial, a função das comissárias de voo se tornaria indispensável nos voos.
Então, diante da introdução da função de comissário de voo exercida primeiramente apenas por mulheres, houve uma divisão de tarefas entre os tripulantes de uma aeronave, visto que anteriormente todos os procedimentos relativos ao tratamento dos passageiros cabiam unicamente aos tripulantes técnicos — mais especificamente, ao comandante e ao co-piloto. Vale lembrar também que à época as aeronaves também voavam com navegadores (especialistas em navegação estelar) e rádio-operadores, cuja função principal era estabelecer a comunicação via rádio entre a aeronave e as estações de comunicação em terra. Tarefas como auxílio no carregamento de bagagens e abertura e fechamento de portas, por exemplo, passaram a ser delegadas aos mais novos tripulantes da aviação.
Com o passar dos anos, a função do comissário de voo ganhou ainda mais amplitude técnica. Com isso, estes profissionais deixaram de ter uma função meramente “cosmética” a bordo e passaram a ser verdadeiros agentes de segurança de voo. A importância da presença de comissários nos voos mostrou ser um fator preponderante na sobrevivência de passageiros em situações extremas, como evacuações de emergência, primeiros socorros e até mesmo na identificação de problemas graves que não poderiam ser vistos através da cabine de comando. Os olhos dos comissários são considerados como uma extensão dos olhos dos pilotos.
Comissários de Voo Na Aviação Executiva
Na aviação executiva, a importância do comissário a bordo de uma aeronave não é diferente. Assim sendo, a aviação executiva não ficou de fora. Assim como na aviação regular, no RBAC (Regulamento Brasileiro de Aviação Civil) de número 135, documento que lista e define todas as exigências preconizadas à aviação executiva de táxi-aéreo no Brasil, a exigência da presença de comissários de voo em aeronaves acima de 19 assentos é compulsória — item 135.107 do documento. A partir dessa necessidade, determinados tipos de aeronaves a serem utilizadas na aviação executiva terão a figura do comissário de bordo como agentes de segurança de voo. Jatos como o Boeing 737 BBJ, Embraer Lineage 1000 e Airbus A319 ACJ, tidos como alguns dos maiores tipos dedicados ao segmento executivo, sempre terão ao menos um comissário disponível — ou mais de um, a depender das necessidades do operador, da configuração interna de assentos e de outros requisitos que podem ser exigidos pelo próprio fabricante da aeronave durante o seu processo de certificação junto aos órgãos reguladores mundiais.
Todavia, ainda que determinados tipos de aeronaves não exijam a presença de um comissário a bordo, os seus operadores podem decidir por tê-los em seus voos por diversos fatores. Além de incrementar a segurança da operação, os comissários de voo nestas operações são responsáveis pelo auxílio aos passageiros em suas necessidades (como a preparação de alimentos e bebidas, ou auxílio na arrumação da cabine para uma boa noite de descanso em voos transcontinentais, por exemplo).
É Possível Ter Comissários de Voo Em Outras Aeronaves?
Sim, existem também os comissários de bordo em helicópteros em táxis-aéreos, especialmente nos voos dedicados ao transporte de pessoal e materiais às áreas de exploração de petróleo no litoral brasileiro. Estes profissionais, além de obrigatórios segundo a legislação brasileira, são responsáveis por assegurar a segurança dos passageiros e demais tripulantes nestas missões que sobrevoam grandes extensões de água sem alternativas para pousos em caso de emergência. Assim, a atuação do comissário nestes voos é crucial para garantir a sobrevivência de todos os ocupantes do helicóptero caso seja necessário um pouso em mar aberto, pois toda a evacuação e todos os procedimentos pós-pouso serão liderados e comandados unicamente por comissários habilitados e capacitados.
Os comissários podem ser treinados e escolhidos conforme o critério de cada operador, podendo com isso serem especialistas em determinadas funções e ações a serem executadas em um voo. Ainda que as suas funções estejam ligadas ao incremento do conforto dos passageiros, é sempre importante ressaltar a função diretamente ligada à segurança: os treinamentos recorrentes, as várias horas de estudo e o constante aperfeiçoamento de cada comissário de voo resulta, indiscutivelmente, em voos seguros e passageiros ainda mais tranquilos. Afinal de contas: se os melhores dispositivos de segurança de uma aeronave são tripulantes bem treinados, nada melhor do que poder contar com eles como companheiros especiais em cada viagem.